quarta-feira, 8 de junho de 2011

Nenhum minuto de silêncio!



Os disparos são muitos. Precisos, especializam-se em múltiplos trajetos e atravessam o tempo sempre na direção do mesmo alvo. Cruéis, dissipam os indesejáveis corpos que habitam o campo e a cidade. Refinados, sabem que aniquilar um homem é tanto privá-lo de bens materiais quanto de palavra. Os disparos são muitos, mas não invencíveis. 

Iluminadas pelo clarão do poder, as milhares de vidas infames fustigadas pelos disparos institucionais também ousam disparar. Um outro disparo, decerto. Disparos políticos, alegres, permeados por práticas coletivas. Utilizando-se da precariedade como matéria-prima, os disparos de resistência articulam jogos minoritários nos interstícios dos golpes de luz e reivindicam a memória como ferramenta de combate. Jogo tático, sorrateiro, feito de trapaças e gambiarras que enuncia outras verdades, desalojando cômodas posições sustentadas pelo discurso oficial e apostando intransigentemente na afirmação política da vida.

No front de batalha do cotidiano, sitiado por regras absurdas e perspectivas enganosas, vidas infames ousam alegremente disparar, convocando assim a memória de cada companheiro tombado. A eles, nenhum minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta.