quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Breves Notas: Audiência Pública sobre Recolhimento e Internação Compulsória de Crianças e Adolescentes em Situação de Rua


No dia 23 de novembro estivemos na audiência pública sobre Recolhimento e Internação Compulsória de Crianças e Adolescentes em Situação de Rua, realizada pela Comissão de Direitos Humanos da ALERJ. A audiência foi marcada pelo diálogo entre os representantes dos mais diferentes órgãos do Estado (estado e município do Rio de Janeiro) e da sociedade civil.

                                                    
                                                 A identificação desses jovens é feita na polícia.
                                                                      O objetivo seria livrá-los do uso do crack.
                                                                                                      Não é.

Notadamente, de maneira geral, os órgãos da administração pública continuam, apesar dos pesares, apoiando a política de recolhimento compulsório. Embora existam variações com relação às críticas, todos, incluindo a Defensoria Pública e o Ministério Público Estadual, na pessoa do Promotor Rodrigo Medina, entendem que não há o que fazer a priori com esses jovens, senão interna-los compulsoriamente, principalmente para que possam iniciar o tratamento com relação ao uso de crack. A Subsecretária de Assistência Social e Descentralização da Gestão, Nelma de Azeredo, e a Titular da Coordenadoria Especial de Prevenção à Dependência Química da Prefeitura, Sílvia Pontes, foram as que mais veementemente apoiaram as ações da Prefeitura, escusando-se de responder qualquer um dos muitos questionamentos que foram feitos pela sociedade civil ou pelo deputado Marcelo Freixo, que presidiu a audiência.

Já a sociedade civil, representadas pelo CRP, CRESS e pela OAB, – e também representantes da Coordenadoria de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde - trouxeram à tona a falta de informação que permita refletir concretamente sobre o suposto sucesso da política de recolhimento e fizeram questionamentos a respeito de outras formas de combater o uso do crack, formas essas já há muito tempo previstas em lei e fruto de anos de acumulo dos trabalhadores de saúde mental e de políticas relativa ao álcool e outras drogas. Nesse sentido, se falou muito da dificuldade de implementação de políticas de atendimento psicossocial. Um exemplo disso está no fato de o Rio de Janeiro possuir apenas 5 CAPSis e 1 Consultório de Rua, número inexpressivo para atender qualquer tipo de demanda – como a do uso crack. Levando esses dados em consideração, e lembrando ainda que muitos dos jovens recolhidos terminaram no DEGASE (onde não há tratamento algum de desintoxicação), o deputado Marcelo Freixo concluiu que a política de recolhimento compulsório tem olhos para as ruas, e não para as crianças e adolescentes que seguem vivendo nelas.

Por fim, ficou definida a criação de um grupo de trabalho formado por representantes do Ministério Público Estadual (MP-RJ), da Defensoria Pública, da sociedade civil e de entidades de direitos humanos, para acompanhar a questão.